domingo, 11 de abril de 2010

Varridos pelo lixo

Histórias varridas pelo lixo. Essa foi a última frase da reportagem de Cristina Gomes para o Domingo Espetacular sobre a tragédia que atingiu o Morro do Bumba, em Niterói, na última quarta-feira, 7. As buscas pelos corpos prosseguiram neste domingo, 11. Trinta e seis já foram encontrados, mais 100 ainda estariam soterrados. O que se vê são escavadeiras fuçando um material escuro, maleável, e bombeiros retirando restos mortais em pequenas caixas, muito provável que sejam crianças.

Quando ouvi sobre a tragédia pela primeira vez pensei que fossem casas construídas ao lado de um lixão, mas não, foram erguidas sobre ele. Me perguntei: “Como isso é possível?”, “Nada foi feito para impedir?”. A resposta veio seca através dos telejornais: Nada!

Ao longo de vinte anos, pessoas construíram casas, vidas, tendo como alicerce um monte de lixo. Famílias inteiras se perderam: cinco, dez, até quinze parentes de algumas delas. O processo de decomposição dos corpos é rápido. O chorume e o metano, substâncias tóxicas que decompõem o lixo, não são mais amenas com a matéria humana.

Um ponto para o reconhecimento das vítimas fatais foi improvisado a duzentos metros das escavações do aterro sanitário. Psicólogos permanecem de plantão, eles prestam o primeiro atendimento aos familiares dos mortos. O auxílio objetiva ajudar no momento da identificação, cada vez mais difícil, pelo avançado estado de putrefação dos corpos.

Ninguém fez nada! Todo o descaso, omissão e indiferença de vinte anos de governo eclodiram em uma desgraça dantes nunca vista, nem pensada. Vemos as imagens como quem assiste a um filme apocalíptico: pasmos, amortecidos e complacentes. Experimentamos uma pontinha, ínfima, da avalanche. Compadecidos, tentamos equiparar os danos das chuvas, falhamente ininterruptas, que banham nosso Estado desde a última quinta-feira, à catástrofe descomunal e arrasadora que assola os cariocas.

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